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Journalist Resource April 22, 2021

‘Nesse balanço, a vida se impõe’: cobertura remota na Amazônia em tempos de Covid-19

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O webinar reuniu quatro jornalistas importantes na cobertura ambiental: Kátia Brasil, Fábio Pontes, Eliane Brum e Daniela Chiaretti.

Nota editorial: Este webinar foi realizado dias antes do falecimento do fotojornalista Lilo Clareto por Covid-19 no dia 21 de abril de 2021. Sua partida prematura foi muito sentida na comunidade jornalística brasileira, que se mobilizou pela sua recuperação. Considerado um dos fotojornalistas mais importantes na cobertura da Amazônia, Lilo deixa um legado de registros históricos no jornalismo brasileiro e ambiental, da floresta e dos povos indígenas.


Como fazer uma boa cobertura jornalística na Amazônia em um momento em que jornalistas e populações seguem expostos ao coronavírus, mais ainda no Brasil, o segundo país em número total de mortes no mundo? Essa foi a principal questão do webinar organizado a 9 de abril pelo Amazon Rainforest Journalist Fund (Amazon RJF), com apoio do Pulitzer Center e do Repórteres Sem Fronteiras (RSF). 

Para discutir esse assunto o webinar reuniu quatro jornalistas importantes nessa cobertura: Kátia Brasil, fundadora da agência de notícias Amazônia RealFábio Pontes, que trabalha como freelancer no Acre; Eliane Brum, que é colunista do El País, e Daniela Chiaretti, repórter especial de ambiente do jornal Valor, que fez a mediação. Brum e Chiaretti são também membros do comitê consultivo do Amazon RJF. 

Os jornalistas, que já estão trabalhando remotamente desde o começo da pandemia, refletiram sobre como jornalistas, fotógrafos e operadores de câmera podem cobrir à distância o que está acontecendo em territórios indígenas e comunidades tradicionais, sem colocar em risco populações vulneráveis ou repórteres. 

O caso do fotojornalista Lilo Clareto, parceiro de longa data de Eliane Brum na reportagem, e sua hospitalização da Covid-19, foi lembrado como um caso importante para mostrar porquê a cobertura no local não é possível neste momento. Clareto contraiu o vírus durante uma viagem de trabalho recente como freelancer. "A reportagem vale a pena, se perdermos pessoas ao longo do caminho?", questionou Eliane Brum em um depoimento emocionado sobre seu parceiro fotógrafo. 

“Que a gente vai perder, mas o quê a gente perde? As duas escolhas têm perdas. E eu não acho que é possível arriscar a vida das pessoas mais vulneráveis e arriscar também a nossa vida, a vida dos jornalistas”, disse Eliane. “Eu acho que nesse balanço, a vida, ela se impõe”.

A própria Eliane Brum mudou suas práticas de reportagem desde que a pandemia começou. Embora ela seja apaixonada por relatar no campo, e até se mudou para Altamira há muitos anos para relatar sobre a Amazônia a partir da Amazônia, ela tem trabalhado remotamente no último ano. “Talvez nunca foi tão importante cobrir a Amazônia como nesse momento”, diz.

Apesar das dificuldades adicionais para falar cara a cara e viajar durante a pandemia, os jornalistas ainda estão se esforçando para cobrir histórias importantes na Amazônia que são particulares a esta crise. Os grupos indígenas têm denunciado especialmente as maneiras pelas quais o governo de Jair Bolsonaro tem aproveitado a pandemia para enfraquecer organizações que protegem comunidades indígenas. 

“A gente vai perder. Mas o que hoje eu e todas as pessoas que amam o Lilo estão perdendo, estão arriscadas a perder, é o próprio Lilo. E essa é uma dor que não tem como dizer o que é. Então eu preferia que o Lilo continuasse perdendo muitas matérias e a gente continuasse fazendo o que fosse possível telefone, por internet, por WhatsApp, por tudo, continuar cobrindo em rede, melhorando nossa rede de fontes, investindo em internet nas aldeias, fazendo tudo isso, para que o Lilo, por mais 20 anos, por mais 30 anos, possa fazer várias outras matérias pessoalmente, depois que a pandemia passar,” diz Eliane Brum, que lidera uma campanha de fundos para pagar a conta da hospitalização do fotógrafo. 

Jornalistas e veículos de comunicação foram forçados a repensar seus modelos com ênfase na reportagem presencial, e tem passado a usar mais a tecnologia como a internet, chamadas telefônicas, WhatsApp e outras formas virtuais para entrevistar fontes sem colocar em risco a saúde das comunidades. 

Um bom exemplo é a agência de notícias Amazônia Real, liderada e fundada por Kátia Brasil em 2013, e para a qual Fábio Pontes também reporta. Em um ano típico, eles fazem uma meia dúzia de viagens de reportagens de campo para jornalistas, mas neste último ano, fizeram apenas uma, que realizaram depois de testar que toda a equipe estava sem o vírus e por um pedido da comunidade local.

“Então trabalhando dentro de casa, utilizando as redes sociais, nós começamos a entender que era necessário contar a história da pandemia desses povos para ela não se apagar, para que daqui a 100 anos, essas pessoas que vão ter acesso aos conteúdos, saibam que na Amazônia, teve essa pandemia e que muitas lideranças morreram, inclusive pessoas muito importantes,” diz Kátia Brasil.

IMPORTÂNCIA DO JORNALISMO LOCAL

A pandemia também evidenciou a importância do investimento em jornalismo local. Jornalistas e comunicadores que moram na região ou são parte das comunidades sobre as quais estão escrevendo, não precisam viajar nem correm o risco de levar um vírus. O modelo jornalístico da Amazônia Real, que enfatiza a colaboração com reportagens em cada região da Amazônia, permitiu-lhes continuar contando histórias de dentro da região amazônica dentro de um processo colaborativo.

“É uma floresta viva, que pulsa a cada instante, então é importante a gente contar a história dessas pessoas,” destaca Kátia Brasil. “A gente construiu essas reportagens como se fosse um mosaico, com todo o mundo ajudando.”

Fabio Pontes, freelancer que também escreve para Amazônia Real, contou que o seu próprio processo de reportagem mudou durante a pandemia. “Passamos a diversificar as fontes, pessoas próximas a eles que moram nas cidades, antropólogos, pessoas que trabalham nos órgãos, na FUNAI, nos Dsei (Distritos Sanitários Especiais Indígenas),” diz Pontes. “Você vai ali, tentando de todas as formas derrubar essa dificuldade de não poder ir a campo, de não poder estar em uma aldeia, de estar em uma reserva. Então eu aprendi isso, a diversificar a quantidade de fontes, a construir novas fontes, a conquistar novas fontes. Acho que esse foi o desafio da cobertura remota.”

E não são apenas as fontes que estão em risco — são também os jornalistas. Muitos jornalistas, especialmente os freelancers, dependem de reportagens para pagar suas contas, uma precarização que os coloca em campo e os expõe à Covid. De acordo com a FENAJ,  o Brasil é o país com maior número de jornalistas mortos pela Covid-19.

Para Eliane Brum, a esperança é que certas práticas que estão sendo implementadas agora também levem a um futuro menos precário para o jornalismo. “A gente está aprendendo que para fazer matérias nessas circunstâncias, e poder seguir cobrindo a Amazônia, vamos ter que fazer o que os ativistas climáticos estão dizendo há muito tempo, que é agir localmente,” diz. “Investir em jornalistas indígenas, em jornalistas quilombolas, em jornalistas ribeirinhos, em jornalistas agricultores, que possam fazer jornalismo desde dentro — inverter essa coisa do enviado especial — é cada vez mais importante.”  


O webinar foi registrado e está disponível no YouTube.