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Recurso Jornalístico Dezembro 11, 2020

Por uma narrativa mais equilibrada das histórias da Amazônia

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Pensar en la importancia de fomentar las conexiones entre los narradores indígenas o locales y el periodismo en una época de rápidos cambios globales y ambientales. Esa es la propuesta de este webinario organizado por el Amazon Rainforest Journalism Fund (Amazon RJF) e The Tenure Facility.
Pensar em como promover o intercâmbio entre comunicadores e jornalistas indígenas em busca de uma narrativa mais equilibrada das histórias da floresta amazônica. Essa foi a ideia central do diálogo proposto pelo webinar em espanhol organizado pelo Amazon Rainforest Journalism Fund e The Tenure Facility.

Pensar em como promover o intercâmbio entre comunicadores e jornalistas indígenas em busca de uma narrativa mais equilibrada das histórias da floresta amazônica. Essa foi a ideia central do diálogo proposto pelo Amazon Rainforest Journalism Fund (Amazon RJF) e pela organização internacional The Tenure Facility, organizadores do webinar "Conectando Contadores de Histórias Indígenas e Locais ao Jornalismo: experiências e oportunidades".

O título do evento já apontava para um problema que foi apresentado aos painelistas. O moderador Camilo Jimenez, membro do comitê consultivo do Amazon RJF, propôs discutir a ideia de que uma coisa seriam os contadores de histórias locais e outra, o jornalismo, onde a tarefa seria conectá-los, segundo apresentava o título.

"Às vezes não vemos que na narrativa indígena local há jornalismo e que no jornalismo às vezes há problemas importantes que não nos permitem conhecer bem ou ter a capacidade de escuta para realmente entrar nas comunidades", explicou Jimenez na sua pergunta inicial ao painelistas.

Edilma Prada, fundadora e diretora de Agenda Propia, na Colômbia, apontou a necessidade de uma autocrítica no jornalismo e a necessidade de responder a um apelo histórico das comunidades indígenas para serem vistas e narradas de forma respeitosa pela profissão, entendendo cenários e contando histórias com uma outra profundidade.

“O jornalismo em geral tem narrado os povos indígenas a partir da 'porno-miséria', ou sempre os narrou a partir da tragédia, da emergência, mas não da diversidade, do respeito, desde a escuta”, comentou a jornalista colombiana.

“Em Agenda Propia temos aprendido que para contar as histórias indígenas é necessário apresentar contatos históricos, cosmogônicos, sociais, de conflito. As lutas dos povos indígenas são históricas, vêm de muitos anos e não estão relacionadas a um acontecimento específico. As histórias que os jornalistas cobrimos geralmente são sobre um fato e sem espaço para contar muitos contextos”, explica Edilma Prada, para quem seria necessário estudar novas narrativas, textos mais longos e formatos que permitam cobrir essas histórias, proporcionando um diálogo e gerando outras dinâmicas.

O portal de jornalismo investigativo Ojo Público, no Peru, tem buscado esse caminho, misturando à sua equipe correspondentes indígenas. De dez correspondentes, dois deles são indígenas, um Aguajuna e outro Quechua, que conhecem muito bem a cosmovisão. “Esse sentimento de crescer na terra é muito diferente e às vezes não é compreendido”, conta Ralph Zapata Ruiz, editor regional do Ojo Público.

O veículo tem aberto espaço para receber contribuições de jornalistas indígenas. “Privilegiamos a conexão entre os narradores locais e uma sincronia com os jornalistas. É um processo muito enriquecedor”, afirma. “É um aprendizado constante dos dois lados. Carregamos processos metodológicos e eles trazem a cosmovisão do mundo e a bagagem cultural”.

Agenda Propia conta com uma equipe intercultural formada por jornalistas indígenas que participam da maior parte dos projetos, que escrevem histórias com suas próprias narrativas. “Existe um imaginário de que os indígenas não sabem das coisas, não são capazes, e é assim que muitas vezes os apontamos na mídia. Mas há fotógrafos, documentaristas, jornalistas indígenas, que estão há muitos anos em espaços como o rádio", esclarece Edilma sobre sua experiência.

O portal colombiano também estabeleceu sete passos em suas reportagens, necessários antes de ir a campo, entre eles, o diálogo, a construção da história junto à comunidade, a inclusão de uma diversidade de vozes, entre mulheres, crianças e sábios, e contextos históricos. Edilma Prada destacou a diversidade dessas narrativas, lembrando que só na Colômbia existem 115 povos indígenas todos muito diferentes.

Uma força narrativa de resistência

Andrés Tapia, líder e responsável pela comunicação da Confederação das Nacionalidades Indígenas do Equador (CONFENIAE), chamou a atenção para as questões sociais, espirituais e ancestrais das narrativas indígenas, cada vez mais valorizadas por jornalistas especializados, que as reconhecem como a própria narrativa desses povos.

“Há um olhar social e principalmente, muito espiritual, expressado nas histórias míticas que os avós reproduzem. Que carrega consigo muitas dores, muito sofrimento já vivido, mas também esperança, anseios, toda aquela visão de mudança que também se tem desde os territórios, e que os narradores indígenas oferecem para o jornalismo, a partir de uma visão própria, muito local e concentrada desde a Amazônia, mas que também é uma contribuição muito importante para o fazer jornalístico ”, explica Tapia.

O jornalista equatoriano destacou a importância dos sonhos, individuais e coletivos, dos quais nascem muitas das narrativas. “E devemos também reconhecer espaços como o de beber a guayusa. Espaços coletivos, energéticos, épicos que se compartilham na madrugada”, diz Tapia, que considera essa narrativa onírica “muito poderosa”.

Ao mesmo tempo, afirma ele, a narrativa indígena abre espaço para tudo o que o rodeia na natureza, de onde emergem posições de luta contra o extrativismo. “É uma força narrativa de resistência”, diz ele.

Paula Alvarado, da organização The Tenure Facility, disse que um ponto difícil de entender entre as pessoas das cidades é a visão das comunidades com a natureza, como seus guardiões. “A forma do bom viver é a integração com a natureza. Algo que o jornalismo às vezes aborda como uma coisa exótica”, explica.

“Temos que tirar essas camadas da visão ocidental, entrar com respeito e também com a humildade de entender que nada sabemos, que não entendemos as dinâmicas, e que precisamos ouvir deles como querem trabalhar conosco”, propõe Paula Alvarado. The Tenure Facility é uma organização internacional que apoia as comunidades indígenas que trabalham em questões de direito à terra.

Em consenso, os participantes destacaram a importância de ouvir os povos e integrar suas narrativas no espaço do jornalismo, bem como a importância de integrar a mídia com comunicadores e jornalistas indígenas para acolher o sentimento dos povos.

Pensar em como promover o intercâmbio entre comunicadores e jornalistas indígenas em busca de uma narrativa mais equilibrada das histórias da floresta amazônica. Essa foi a ideia central do diálogo proposto pelo webinar em espanhol organizado pelo Amazon Rainforest Journalism Fund e The Tenure Facility.