Quando pensamos em mudanças climáticas, logo pensamos em ciência, cientistas e pesquisadores, Amazônia, imagens dos livros de ensino fundamental e médio de grandes empresas emitindo grandes quantidades de gases de efeito estufa.
E tudo isso está relacionado. Mas o que não vemos é a presença e associação dos povos das florestas com a temática.
Sabe-se que em todo mundo, grande parte da biodiversidade está no seu fim, e que o Brasil concentra a maior floresta tropical do mundo: a Floresta Amazônica, responsável por grande parte da emissão de gás carbônico para a atmosfera. Grande parte da Amazônia corre risco de não existir mais por conta de ações da humanidade.
Sabemos que o Brasil (que antes da invasão europeia em 1500 era 100% terra indígena) tem apenas 13% de seu território demarcado como terra indígena, e dessa porcentagem, 80% se concentram na Amazônia.
Dados científicos mostram que as terras indígenas são os territórios onde mais se têm preservação da biodiversidade e os menores índices de desmatamento. Os povos da floresta, os povos indígenas são os principais guardiões e defensores de toda a biodiversidade por entenderem a terra como parte de um todo, como corpo, espírito de conexão com os sagrados ancestrais.
Com isso, fomos para a 26ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP26), com uma delegação de cerca de 40 lideranças indígenas do Brasil, da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil – APIB, e de seus Biomas e Regiões, como Amazônia: Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira – COIAB; Caatinga e Cerrado: Articulação dos Povos Indígenas do Nordeste, Minas Gerais e Espirito Santo – APOINME; Pampas: Articulação dos Povos Indígenas da Região Sul – ARPINSUL; Mata Atlântica: Articulação dos Povos Indígenas do Sudeste – ARPINSUDESTE, Comissão Guarani Yvyrupa e Aty Guasu; e Pantanal: Conselho do Povo Terena.
Participamos de espaços de construções de ações efetivas de preservação dos biomas de forma justa e igualitária que levassem em consideração o modo de vida e respeitassem as especificidades dos povos indígenas. Vimos o grande protagonismo da juventude indígena com o discurso da jovem indígena do Povo Paiter-Suruí, Txai Suruí, na abertura da COP26, e o protagonismo das mulheres Indígenas da Articulação Nacional das Mulheres Indígenas Guerreiras da Ancestralidade – ANMIGA.
Participamos ainda na linha de frente da maior mobilização climática a marcha da juventude, que contou com coletivos de jovens na luta e ativismo ambiental como Engajamundo e Greve pelo Clima (Fridays for Future), encabeçado por Greta Thumberg.
Enquanto jovem indígena, estudante de biologia, participar da COP26 e ajudar a construir debates conjuntos de preservação, mostrando para as pessoas as consequências de suas ações nos territórios indígenas, e que nós, sim, sabemos como manter o bem comum da humanidade que são os biomas, é um protagonismo nato.
A presença indígena na COP26 é uma conquista dos povos indígenas, que protagonizam a luta e a defesa pela mãe terra. Vemos muitas pessoas falarem sobre povos indígenas, sobre preservação, mas o mais importante é evidenciar o protagonismo desses povos na luta ambiental.